Paulo Franke

09 fevereiro, 2008

Quando o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial

Meu saudoso pai, Sr. Darcy Franke, quando éramos criancas ou jovens, nos contava episódios da Segunda Guerra Mundial, tanto os que aconteceram na distante Europa quanto os que aconteceram na nossa própria cidade, Pelotas, RS. Descendente dos primeiros alemães que vieram para o Rio Grande do Sul em 1825 (veja link abaixo), contava-nos com voz pesada e triste o que ele próprio testemunhara juntamente com milhares de famílias descendentes de alemães que nada tinham a ver com o nazismo. (Continua após o texto publicado em um livro sobre a história de nossa cidade.)


Era noitinha do dia 12 de agosto de 1942 quando soaram as sirenes dos jornais."Opinião Pública" e do "Diário Popular", instalados à rua 15 de Novembro, esquina Voluntários, onde hoje funciona o "Bar Cruz de Malta". As mesmas vibraram fortemente chamando a população para uma notícia sensacional: o Brasil, entrava na 2ª Grande Guerra ao lado dos aliados, contra os países do Eixo (Alemanha, Itália, Japão e países satélites). Em poucos minutos, uma grande multidão começou a concentrar-se no centro da cidade (15 de Novembro e 7 de Setembro), dando início a uma passeata. Era o grande "quebra-quebra". Os principais alvos eram estabelecimentos comerciais e residências de alemães e italianos, aqui residentes. Furiosa, a multidão seguia, deixando um rastro de destruição. Fato incontestável, merece o nosso registro e para que se tenha uma idéia real deste humilhante acontecimento, divulgamos uma série de fotos que mostram a grandiosidade deste "quebra-quebra". Fotografias que nos foram cedidas por Maximiano Pombo Cirne, na época redator do "Diário Popular" e que, desempenhando esta função, acompanhou de ponta a ponta o acontecimento.



Voltando aos comentários de meu pai - dos que ainda me recordo - no dia do quebra-quebra, decretado pelo governo do Presidente Getúlio Vargas, quando os operários e funcionários chegaram à firma onde trabalhavam, Curtume Julio Hadler, encontraram a turba destruindo tudo o que podia- também em estabelecimentos industriais - espatifando janelas e portas, adentrando os locais de maquinário pesado e da producão e também os arquivos e máquinas do escritório, setor onde meu pai trabalhava. Em pouco tempo o que restava era um monte de destrocos e fogueiras ardendo por todos os lados. Ainda que muitos da diretoria e do escritório e também técnicos (meu avô e dois tios-avós), idem operários, fossem descendentes de alemães que nenhuma culpa tinham do que acontecia do outro lado do mundo, dezenas de operários eram brasileiros que trabalhavam arduamente para ganhar o sustento de suas famílias, como os demais.

Uma tia-avó também de origem alemã acrescentava-nos que quando os revoltosos, com o total apoio do governo, entraram para saquear e atacar uma família descendente de alemães, a dona da casa enrolou a bandeira brasileira à volta de seu corpo, o que fez a turba dar para trás e não a atacar. De fato, um episódio trágico da história brasileira

Contaram-nos também dos black-outs em pleno Rio Grande do Sul, quando todos eram obrigados a usar velas e colocar papéis escuros nas janelas. Nascido em outubro de 1943, e alheio a tudo o que se passava, às vezes penso que enquanto eu dormia ou chorava no meu berco infantil, Hitler estava discursando freneticamente, no outro lado do mundo, nos dias tenebrosos da Segunda Guerra Mundial.

L i n k s

- Minhas raízes nas Cidades de Lutero (ver Índice de todos os meus tópicos, uma das primeiras postagens do meu blog)


- Pelotas, jornada da saudade (onde mostro foto da Igreja Luterana S.João, atingida 
pelo quebra-quebra, idem um comentário a respeito do "sino que silenciou"...)


http://www.paulofranke.blogspot.fi/2012/04/pelotas-rs-pelos-caminhos-da-saudade.html

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