Paulo Franke

22 junho, 2011

G.ABADIE, homem de Deus, na 2a Guerra Mundial/ 4

Continuação...


Abadie desenhado por um colega de cativeiro


Silenciei a voz interior - minha própria vontade a levara para longe. Com o cair da noite, sem que fôssemos percebidos, meu companheiro e eu enveredamos pela floresta, ele indo na frente e eu o seguindo. Não trocamos palavras e tanto quanto pudemos abafamos o som de nossos passos. O silêncio era impressionante e a noite escura. Vagalumes voavam à nossa volta.

Tínhamos caminhado dessa maneira por muitas horas antes de cruzarmos a estrada onde um sinal indicava a proximidade do vilarejo de Liebfrauenberg. Estávamos seguindo um estreito caminho que serpenteava visivelmente quando um som agudo ressoou diante de nós "Joseph! O Francês!" Era uma sentinela alemã que havia aparentemente desertado de seu posto.
Eu soube diversas horas mais tarde que o bolsão de Hochwald havia sido cercado por vigias naquela noite para evitar qualquer fuga.

Meu companheiro parou bruscamente e disse-me "Desisto!" Quanto a mim, virei-me como um robô e desci novamente pelo caminho, inconsciente do perigo. Um som agudo de uma bala assobiou rente à minha orelha. Havia sons de vozes guturais e o latido de um cão, como se a montanha tivesse despertado. Comecei a correr, mas o dia estava rompendo. Deixando o caminho, enveredei para dentro da floresta. No fundo da ravina atravessei um riozinho, e vim a tropeçar em uma raíz e cair sobre ela. Agora os latidos dos cães aumentaram como se estivessem alertando uns aos outros.

Exausto e com a boca seca, procurei algum abrigo onde pudesse recobrar o ânimo. De repente, vi-me no meio de um grupo de alemães em uma clareira. O que estava mais perto de mim puxou uma granada de mão e me ameaçou com ela. A tentativa de escapar falhara. Não vou contar o que se seguiu, pois não tomei sobre mim a tarefa de contar as memórias de guerra. Basta dizer que fui levado de carro de volta a Lobsann e me encontrei, diversas horas mais tarde, sozinho atrás de um sargento alemão montado em um cavalo à frente de uma longa fila de soldados franceses empreendendo uma humilhante entrada em Hagenau, que agora estava ocupada pela Wermacht.

Eu havia escapado por um triz da morte e precisava rever a palavra de advertência à qual eu recusara obedecer. A despeito do meu desespero e remorso, experimentei um sentimento de gratidão. O Eterno tivera misericórdia de mim. De fato, pela largura de um cabelo a bala mortal não me atingira.

Alguns meses mais tarde, após muito pesquisar, eu encontrei na Bíblia as palavras que o Espírito de Deus havia usado para tentar deter-me. Elas estão no primeiro versículo do capítulo trinta da profecia de Isaías.

Embora eu fosse um hóspede involuntário no campo de prisioneiros de guerra em Nuremberg, comecei a vislumbrar as grandes possibilidades que meu cativeiro me dava para testemunhar acerca de minha fé entre meus companheiros de infortúnio. Na Grã-Bretanha ou em algum outro lugar durante os anos que precederam à rendição da Alemanha, não me foi possível proclamar o Evangelho - por mais paradoxal que pareça - tanto quanto atrás de arames farpados de Oflag XIIIA e então Oflag XVIIA. Fiz amizade com camaradas que de outra forma eu poderia nunca ter encontrado. tive a grande alegria de ser um instrumento de Deus para trazer diversos deles à fé. Eu tive tempo livre como nunca antes para ler - e não havia falta de livros.

A capela protestante estava quase sempre disponível para realizar reuniões durante as quais eu anunciei as boas novas de Cristo, que deu aos Seus discípulos a verdadeira liberdade que alguém pode possuir, mesmo em uma prisão.

Uma verdadeira universidade foi rapidamente organizada. Estudei matérias dadas por eminentes professores. Também me foi possível realizar uma de minhas ambições - aprender os rudimentos do grego a fim de entender mais claramente o Novo Testamento. Tive um bom relacionamento com os muitos padres e monges católicos-romanos e a um deles ensinei inglês.

Sim, permaneço convicto de que a misteriosa voz ouvida no dia 30 de junho de 1940 foi realmente a do Espírito Santo, Aquele que condescende para fazer de cada cristão Sua morada, como afirmou o apóstolo Paulo. Olhando para trás, não lamento aqueles cinco anos que materialmente falando foram tão difíceis. Na verdade, o contrário é o caso. Houve fome, frio, falta de liberdade, porém aqueles anos foram tão ricos espiritualmente! Meu único lamento foi por minha voluntária surdez a qual ilustro com a declaração do livro de Jó: "Deus fala uma vez, sim duas vezes, mesmo assim o homem não percebe" (Jó 33:14)

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L i n k

Relato de Gilbert Abadie acerca de um Natal na prisão:

http://paulofranke.blogspot.com/2011/01/sombra-do-nazismo-1.html

6 Comments:

  • Fico feliz em ter contribuido com a foto neste blog.Que saudade desses bons tempos vividos com essa maravilhosa familia,aproveito para agradecer tbm, o email da Renie Luce, já estamos nos correspondendo.Continue amigo vc nos traz muitas alegrias nos teus blogs.

    By Blogger lucy, at sábado, junho 25, 2011 4:40:00 PM  

  • Hi Paulo: Just finished reading the Abadie story. Praise the Lord!

    D.Gruer

    By Blogger paulofranke, at segunda-feira, junho 27, 2011 2:43:00 PM  

  • Boa matéria sobre o Abadie!

    Daniel

    By Blogger paulofranke, at segunda-feira, junho 27, 2011 2:54:00 PM  

  • Primeiramente devemos agradecer a voce por receber este material relatando a historia do ‘homen de Deus’ que, pela graca de Deus, foi o nosso privilegio de tê-lo como Chefe Territorial, lider nas muitas ‘lutas’ e ‘vitorias’ que tivemos durante o seu comando do Exercito no Brasil. Mary e eu chegamos ao Brasil no principio do ano de 1961 – dentro do primeiro ano fui nomeado Secretario de
    Financas e motorista do Comissario Gilbert Abadie e sua estimada esposa ate o ultimo dia de sua despedida para França. Que privilegio imenso poder chegar a conhecer tao de perto este homen, e esta familia! Viajamos por todos os lugares no Brasil onde havia o trabalho do Exercito naquela epoca. Aprendi muitas coisas de sua vida naquelas viagens longas, acompanhado por outros colegas – Major Valente, Brigadeiro Paulo Tavares Bastos, Major Zulmira Benfica e etc.

    Ron Manning
    Nova Zelândia

    By Blogger paulofranke, at quinta-feira, junho 30, 2011 4:36:00 PM  

  • Vô Alexandre:

    Hoje li o relato de Gilbert Abadie, gostei demais, sinto não ter tido esse conhecimento dele por ocasião de seu comando como líder aqui no Brasil. Obrigado por ter colocado esse documentário em seu blog. Abraços

    By Blogger paulofranke, at segunda-feira, julho 11, 2011 1:17:00 PM  

  • Tive o privilégio de ter conhecido o Comissário Abadie em Lisboa, Portugal, bem no iníco da obra Salvacionista neste país. Ainda lembro muitas vezes de uma conversa especial que teve comigo.
    Obrigada por medar a conhecer algo mais deste Homem de Deus.

    By Anonymous Maria Teresa Grangeia Tavares, at domingo, outubro 09, 2011 5:41:00 AM  

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