Paulo Franke

24 abril, 2012

4. PELOTAS-RS... pelos caminhos da saudade.


Prosseguindo sempre em direção ao extremo-sul do Brasil, de Curitiba cheguei a Porto Alegre para somente trocar o ônibus na rodoviária para o confortável Embaixador 5 estrelas que me levou a Pelotas, a cidade onde nasci e vivi os primeiros anos de minha vida, de lá saindo aos 21 anos para o seminário do Exército de Salvação em São Paulo no distante ano de 1964.



Pelotas, hoje uma moderna cidade, está comemorando os seus 200 anos de fundação neste ano.



Nesta outra foto do Facebook, vê-se a cidade ao fundo e em primeiro plano o Laranjal, hoje um dos bairros da cidade, situado à beira da Lagoa dos Patos, a maior lagoa do Brasil. Banhando a cidade, o rio São Goncalo, que liga a lagoa à Mirim. No Laranjal, onde mora minha irmã mais velha, fiquei hospedado nos 5 dias em que lá passei.




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Curiosidade



O nome PELOTAS, desconhecido e até estranho para a maioria dos brasileiros, deriva-se das embarcações de vara de corticeira forradas de couro, que na época eram utilizadas para a travessia de rios e arroios, chamadas pelos indígenas da região de "pelotas" (Desenho que ilustra o livro "A cidade de Pelotas", de Fernando Osório).

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Uma carta de navegação - que ganhei na viagem marítima que fizemos do Brasil à Noruega - mostra o sul da Lagoa dos Patos e sua comunicação com o mar através da cidade de Rio Grande, um quadro que decora a bonita sala de minha irmã.



Praia do Laranjal, privilégio termos uma praia tão bonita e próxima à cidade!



Ainda que hoje um bairro da cidade, passada a movimentada temporada de veraneio está deserta...




Povoam as recordações que passam como nuvens pela mente...



Uma casa coberta de hera, também deserta, na beira da praia.



Sentado com minha irmã no jardim de sua casa, vejo um bem-te-vi silencioso...



... mas audível o significado do seu nome: "bem-te-vi... no início de tua vida, e a vejo até agora", como que a voz de Deus falando-me e à minha irmã, hoje enferma.



Belas casas com coqueiros à frente e as grandes figueiras típicas do Laranjal!



No último dia decidi empreender uma jornada nostálgica, iniciando pelo Museu da Baronesa, fechado naquela segunda-feira. Aproveitei, então, para fotografar a casa histórica que se situa logo à entrada do museu.




Histórica, ao que me consta, por nela ter sido filmado, em 1951, a película "Ângela", do estúdio paulista Vera Cruz, com Eliane Lage e o gaúcho Alberto Ruschel.



 Do bairro do Areal, onde se situa o museu, tomo um ônibus  e preparo o coração - e os pés - para a planejada jornada. Primeiro lugar visitado: a Igreja Luterana São João (os Frankes constam na lista dos primeiros luteranos a se estabelecerem no Brasil, em 1825).




No quebra-quebra efetuado durante a guerra - em que por um dia foi permitido o saque e violência a propriedades que fossem de alemães - a Igreja Luterana local foi também atingida. As fotos históricas mostram-na vazia e em processo de reconstrução. Veja nos comentários de leitores a história sobre o sino da igreja...




O salão social da igreja em foto da amiga do Facebook, Maria Vitória, que conheci nesta visita à cidade.



No outro quarteirão entro no Asilo de Mendigos, bem administrado por católicos, e pergunto por uma interna que eu não visitava há muitos anos, julgando-a quem sabe falecida. A assistente social ouve-me por alguns minutos e, para grande surpresa minha, chama a referida pessoa interna, hoje com 80 anos. Na época de nossa infância era uma vizinha, menina com deficiência mental. Meus olhos, confesso, umedeceram.-se...



E caminhando sempre, chego à "carcaça" do que foi o Curtume Julio Hadler S/A, firma onde trabalhou meu avô, tios-avós, meu pai, que de office-boy chegou a sub-diretor, e mesmo eu e minha irmã, que trabalhamos no escritório. O curtume foi também alvo dos vândalos durante o quebra-quebra contra firmas alemãs durante a guerra, acarretando-lhe grandes prejuízos.




A parte que consegui fotografar foi a expedição, de onde eram enviados couros para o Brasil inteiro, inclusive para os assentos dos carros da Willys Overland do Brasil, em São Bernardo do Campo. Dessa firma saí para prestar o serviço militar, voltando 9 meses depois, e, um ano após, para cursar o seminário salvacionista em São Paulo.



Continuando na rua Prof. Dr. Araújo, em direção à Avenida Bento Gonçalves, onde viveu minha família por muitos anos, passo pela minha primeira escola, o Grupo Escolar Dom Joaquim Ferreira de Mello. Lembrança de antigas professoras e colegas e, incrível, do sanduíche que nossa mãe nos preparava para levarmos e comer na hora do recreio!




Chegando à Avenida (no. 455), lá está a bela casa que meu pai mandou construir, na época com uma roseira vermelha que se entrelaçava nos "favos de mel".  Naquele hall conversávamos com amigos da nossa juventude. A porta, ainda a mesma, lembrou-me da despedida de minha mãe, quando saí de casa em março de 1964...




As pesadas pedras que meu pai trouxe da Colônia Progresso ainda ornamentam o jardim.



No quarteirão seguinte, na mesma avenida, indo em direção ao centro da cidade, paro no n. 411. Ali moramos alguns anos, antes de nos mudarmos para o n. 455. Meu pai gostava de calçadas bonitas, e esta continua a mesma que ele escolheu para pavimentar a frente de nossa casa.




O hall de entrada era bonito... era. Mesmo assim, fotografo-o, e a luz do flash de minha câmera atrai os moradores que vêm "saber o que estava acontecendo". Explico que passei parte de minha infância ali e queria levar uma recordação... (sorrisos deles e o meu, aliviado).






Mais um quarteirão e chego ao cinema de bairro de nossa infância, onde um número sem conta de filmes foram assistidos. Outrora barulhento - principalmente durante os filmes de cowboys ou chanchadas da Atlântida - hoje é um prédio-fantasma (inaugurado em 1927) e nada acontece nele. 



Não somente nós o frequentamos na nossa infância, mas também meus pais quando namorados e depois casados. Quantos filmes noir não terão assistido ali! Quando me tornei jovem, troquei o Cine Avenida pelo Cine Capitólio, no centro da cidade, local de encontro da juventude dos anos 50 e 60... hoje transformado em um grande estacionamento para carros.



Em São Paulo, meu filho presenteou-me com o DVD "David e Betsaba", assistido naquela época...


... e também com o "O Maior Espetáculo da Terra"!!



Sempre caminhando, de vez em quando olho para o hall de entrada de certas casas... ali viviam parentes ou amigos de nossa família, hoje a maioria na sua "última morada" no bairro do Fragata... ou então que se mudaram para outra cidade onde vivem também seus descendentes. Sou um exemplo típico do último caso.




 Árvores centenárias da Avenida... quantas histórias poderiam contar! E quantos carros de marcas européias e americanas nela trafegaram!



Pendurado em um canto da casa de minha irmã, um presente que pintei para minha saudosa mãe, lembrando ela e o meu pai no tempo de namoro nos anos 30!!



Mas Pelotas também modernizou-se e novas casas - belíssimas por sinal - comprovam isso.



Não só lembranças de amigos de minha idade aconteceram naqueles dias, mas também a visita deste jovem casal pelotense que conheci na Finlândia e com quem fui a Israel. Ela, expert em floricultura, veio especializar-se por aqui. Ele, dono de uma bonita voz, além de seu trabalho secular, envolve-se com o louvor na abençoada igreja de sua família, no bairro do Areal  (Brother, coloca o endereço e horário dos cultos nos comentários, e também dicas para os leitores locais escutarem o programa na Rádio Cultura que vocês levam ao ar, hein?).



Não houve tempo para visitar muitos parentes e amigos do passado, mas sabendo que meu amigo Montiel, hoje com 102 anos, viera da cidade do Herval do Sul para uma rápida internação, fui visitá-lo em sua casa na rua Gomes Carneiro. Sua filha, amiga de muitos anos, foi igualmente visitada. Como diz a Bíblia, "há amigo mais chegado do que um irmão"... é o caso dos mencionados. Visitar sua casa foi recordar os primeiros anos quando eu e minha irmã ingressamos no Exército de Salvação, em fevereiro de 1962.




O "The End" do filme Lili, assistido e curtido na década de 50, dá um oportuno fecho à  nostálgica postagem...



Minha sobrinha e afilhada leva-me à rodoviária.




Logo eu estava embarcando novamente em um "Embaixador" rumo à capital do RS...


Foi uma visita saudosista à minha terra, mas como diz o antigo hino - Sou forasteiro aqui, em terra estranha estou, do reino lá do céu embaixador eu sou - somos de fato forasteiros neste mundo, pois a nossa verdadeira pátria está no porvir, daí devemos continuar com fidelidade nossa missão de embaixadores de Cristo, como descrita na continuação do hino:


Meu Rei e Salvador, vos manda em Seu amor: 'Reconciliai-vos já com Deus!' -
reconciliar-se com Deus, o passaporte para entrada no céu!  


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L i n k


Aos interessados em ver novas fotos de Pelotas, convido a acessarem o link abaixo do meu blog, de uma visita anterior que fiz, com uma galeria de fotos de belos locais e prédios históricos, ocasião quando a denominei "a Paris gaúcha" (o Google poderá fornecer outras tantas informações da chamada "Princesa do Sul").

http://paulofranke.blogspot.com/2009/08/ferias-no-brasil-palegrepelotas-rs-lon.html

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Próxima parada:


Visita ao Museu da Imigração Alemã em São Leopoldo-RS.


Imperdível para quem tem antecedentes alemães!


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11 Comments:

  • Amei a postagem, linda! Realmente vc fez um passeio maravilhoso por Pelotas! Nos veremos!!! Saudades desde ja!
    Daiane Benemann

    By Anonymous Anônimo, at terça-feira, abril 24, 2012 4:35:00 PM  

  • Grande amigo! Bonita postagem, prazeirosa do inicio ao fim! Bom, já estamos em novo endereço! Rua Mal. Deodoro, 517, com cultos as quartas feiras ás 19:30 e aos domingos pela manhã, as 9:30. O nosso programa vai ao ar de segunda à sexta as 21:30 pela radio Cultura, 1320khz.
    Estamos com saudades! Grande abraço e fica com Deus!

    By Blogger Tarso Benemann, at terça-feira, abril 24, 2012 7:31:00 PM  

  • Leitores,
    Sejam bem-vindos aos cultos dos meus amigos e a sintonizar no programa que fazem. Sairão por certo ganhando alegria e energia para a vida!
    Dono do blog

    By Blogger paulofranke, at quarta-feira, abril 25, 2012 10:22:00 PM  

  • Belas fotos do Museu e da Casa do Imigrante.
    Matei a saudades de ambos.
    aBRaços.
    Vitor

    By Blogger Vitor Rolf Laubé, at sexta-feira, abril 27, 2012 4:05:00 AM  

  • Oi Paulo,só agora pude com toda calma apreciar teu Blog e a postagem que havias feito anteriormente.
    Só o teu olhar poético e saudoso para me trazer a beleza de nossa terra tão abandonada nos últimos anos,...
    As fotos ficaram ótimas e teus comentários são realmente emocionantes.
    Obrigada por este presente.
    Em tua próxima visita não deixa de fazer um passeio pelas charqueadas que sobraram.Muitas foram restauradas e viraram pousadas,casas de festas,...
    A São João,onde fizeram uma mini-série na TV Globo tem objetos restaurados por mim,como a estátua que fica a beira do Arroio Pelotas,em baixo de uma figueira.Linda!
    Um abraço
    Selma Cassal

    By Blogger selma, at sexta-feira, abril 27, 2012 6:18:00 PM  

  • Obrigado, Selma, pelo bon comentário! Pelotas merece! E aos demais que postaram aqui... grato também!

    By Blogger paulofranke, at sexta-feira, abril 27, 2012 9:54:00 PM  

  • Que passeio lindo por Pelotas/RS! Agora sim conheci o local onde vc tanto assistiu filmes nas décadas de 50/60, haha, adorei conhecer mais um pouco da sua vida, ou melhor dizendo, da sua infancia e juventude quando ainda em Pelotas, bacanérrimo.
    Abração

    By Blogger João Guilherme, at sábado, abril 28, 2012 9:58:00 AM  

  • Paulo: amei como descreveste tua última visita à nossa Pátria, principalmente no que focaste sobre nossa Pelotas. Quanto ao assunto SINO DA IGREJA SÃO JOÃO - que te contei por telefone - realmente ele nunca foi roubado, mas silenciou durante o período de restauração da igreja, que foi queimada, depredada... Daí ter surgido a lenda de roubo. Abraços da amiga Ceara

    By Blogger paulofranke, at quarta-feira, maio 02, 2012 11:05:00 PM  

  • Pelotas, cidade que viví por muito pouco tempo, mas que deixou saudades.
    Sou saudosista também e agora que estou vivendo longe da minha cidade natal, estou pensando, a exemplo do seu tur, fazer o mesmo quando for para minha Sampa. Resta torcer para que as coisas não tenham mudado pois, sendo em São Paulo/Capital, a cidade costuma mudar sua roupagem a cada dois anos!
    Obrigada pela idéia, cheguei a sentir uma "inveja santa" por não já ter feito isso um dia.
    Parabéns pela postagem!

    By Blogger Yara, at quarta-feira, maio 09, 2012 10:47:00 PM  

  • Paulo, belas fotos da nossa cidade de infância e adolecência. Bons tempos aqueles, do grupo do Redentor, das secões de cinema nos domingos a tarde
    E das reuniões da turma na nossa casa da Mal Deodoro. Um abraço..

    By Anonymous Edna Winkler, at sexta-feira, agosto 03, 2012 6:04:00 AM  

  • Fiquei impressionado com teus relatos das lembranças que tiveste passando por cada canto da cidade. Interessante falares do sanduíche que tua mãe preparava na época do colégio e também da calçada que teu escolheu e teres visto a sra. no asilo depois de anos.
    São lembranças, que num primeiro momento parecem tão "bobas", mas que prá quem vivenciou-as, tem uma importância sem igual. Deve ter sido um emoção grande mesmo ter visitado esta tão querida cidade. Foi bom ler teus parágrafos... abraço. Thiago Braga Freire

    By Blogger Unknown, at quarta-feira, abril 30, 2014 7:02:00 AM  

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