Paulo Franke

15 junho, 2013

Sobre TEAR e BASTIDOR... familiares para você?

Uma postagem dedicada a mulheres, para saberem que nós homens as consideramos muito importantes e indispensáveis.
 Tanto quanto me lembro, só fui familiarizar-me com trabalhos em tear quando nos casamos. Tradição na Finlândia  recebemos alguns como presente de casamento. E logo nossa casa em Rio Grande-RS tinha não somente quadros, mas  também "tapetes de parede", como este da foto de julho de 1975, quando nossa filhinha fez seu primeiro aninho e a irmãzinha já estava a caminho, conforme o salmista: Tu formaste o meu interior,  Tu me teceste no seio de minha mãe. (Salmos 139:13). Era a nossa família sendo formada ou tecida sob as vistas do Senhor.


Antes de prosseguir, saibamos mais a respeito de teares...

A tecelagem pode ser artesanal, utilizando-se teares manuais, ou industrial, com teares automáticos.
A tecelagem é conhecida por ser uma das formas mais antigas de artesanato ainda presente nos dias de hoje.
Há cerca 12.000 anos, na Era Neolítica, os homens já utilizavam o princípio da tecelagem, entrelaçando pequenos galhos e ramos para construir barreiras, escudos ou cestas. Teias de aranha eninhos de pássaros podem ter sido as fontes de inspiração tal trabalho. Uma vez que essa técnica já era conhecida, é muito provável que o homem primitivo tenha começado a usar novos materiais para produzir os primeiros tecidos rústicos, e, mais tarde, vestuário.
Escavações arqueológicas têm encontrado material feito de fibras fiadas e entrelaçadas, mas esses "tecidos" são muito grosseiros e estão mais parecidos a cestas de trabalho. O exemplo mais antigo de tecido descoberto na Europa, na costa Dinamarquesa, data do fim da Era Mesolítica, entre 4600 e 3200 a.C., mas as descobertas no Peru, no alto da 'Sierra del Norte' são muito mais antigas.
O primeiro tear foi provavelmente um artefato tão simples quanto uma estrutura vertical construída de galhos, no qual os fios eram pendurados e tensionados. Outros fios eram então entrelaçados manualmente, a um certo ângulo daqueles já tensionados, criando um tecido rústico.
Aos gregos é atribuída a tranferência do tear de posição vertical para a horizontal, e aos egípcios a fixação dos fios de urdume em dois galhos a fim de poderem ser separados de modo a facilitar o entrelaçamento dos fios.
(Wikipedia)

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Na família da Anneli teares estão presentes desde longa data. Sua mãe, na foto acima, até quando tinha energia o manejou certamente seguindo a tradição de sua mãe, sua avó, sua bisavó da Carélia, região finlandesa que hoje pertence à Rússia.



Visitando-a outro dia, fotografei alguns de seus trabalhos. O tearzinho de enfeite presenteei a ela em outra ocasião.




Este, mais trabalhado e com tela transparente, foi feito no tear de uma tia da Anneli, irmã de sua mãe, e está na porta que dá para a nossa área, lugar bom de estar no verão, no inverno, imaginem...



Feitos pela mesma tia, estes dois, meio transparentes, estão em duas portas de nosso apartamento, se bem que são muito usados em janelas.




Um tipo meio rústico, mas muito comum na Finlândia.



Nosso pequeno apartamento de somente um quarto, sala, cozinha e banheiro, tem a vantagem de possuir um grande hall de entrada (idem janelas) onde se ajustou este tapete que está conosco praticamente desde que viemos viver no país, há 14 anos.

Curiosidade: 

Tapetes são muito populares no país devido ao frio, ainda que casas sejam aquecidas. Ao adentrar uma casa finlandesa, ou mesmo escandinava, o morador ou mesmo as visitas tiram os sapatos. O costume certamente é ligado ao inverno, para não sujarem os tapetes com a neve lá de fora, embora persista o costume em outras estações do ano, mesmo no verão. Minha filha, que voltou ao Brasil depois de viver muitos anos aqui, disse que vai continuar com o costume em sua casa. "E os brasileiros vão aceitar ficar de meias (ou carpins, como dizem os gaúchos)?" perguntei-lhe com alguma dúvida, sabendo que gosta muito de receber visitas...



Na sala, este certamente fabricado na Turquia, onde tours visitam diversas fábricas de tapetes e o turista vê inclusive as dezenas de funcionários  tecelões no seu trabalho, hábeis nos seus teares verticais, principalmente.

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E aqui um bastidor: "espécie de cixilho de madeira que segura o tecido para se bordar" (Aurélio).

Quando pesquisei e apresentei neste blog as fotos de nossos antepassados Ebling-Franke, uma prima bibliotecária que mora em Brasília comentou sobre o bastidor que herdou de nossa bisavó Adolphina Ebling Franke. Com as fotos que a meu pedido enviou, pelas quais agradeço, veio o texto abaixo:


O bastidor era da "vó Adolphina" e ganhei quando tinha uns 14 anos, da tia Lili. Acho que desde cedo ela percebeu que eu seria uma boa guardiã de tal peça. Espero que tenha alguém na próxima geração para quem eu possa passar o bastidor. Só não sei se a vó Adolphina já não herdara de alguém. Não sei precisar a idade dele, mas tenho uma vaga idéia de que a tia Lili me falou que veio da Alemanha.






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Foto que tirei dos velhos teares do Museu da Imigração Alemã em São Leopoldo-RS. Depois de trabalhar duro, muitas vezes na lavoura, as mulheres fiavam e teciam as roupas de sua família.

O tecelão na pintura de Vincent van Gogh



Foi um daqueles momentos únicos. Em uma rara manhã livre na capital mexicana, quando participei das equipes de socorro no terremoto que destruiu praticamente a zona central da capital em 1985. Passando por uma feira ao ar livre, vi uma velhinha índia sentada ao chão diante do seu rudimentar tear. Comprei o ponche que ela fabricou (foto), de cores bem escolhidas, para presentear minha esposa que estava em New Jersey, onde trabalhávamos. 

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Poema de CORRIE TEN BOOM impresso em um cartão e oferecido no museu onde foi a relojoaria de seu pai em Haarlem, Holanda



Minha vida é como uma tecelagem entre o meu Deus e eu.
Eu não escolho as cores, e Ele trabalha velozmente. 
Enquanto está tecendo, em tolo orgulho vejo só o avesso,
enquanto Ele vê o desenho.
Quando o tear silenciar, Ele desenrolará o magnífico trabalho.
Então o Tecelão, com Suas mãos habilidosas, 
me explicará a razão de a escuridão ter sido incluída
assim como os fios de ouro e prata no modelo que Ele planejou.



Veja no link abaixo fotos de minha visita ao museu. Corrie e sua família foram presos por esconderem judeus durante a Segunda Guerra. Ela e sua irmã Betsie foram levadas a um campo de concentração, onde Betsie morreu perdoando os seus algozes.



A propósito, uma tela nada mais é do que um tecido em arame. Esta bela e significativa imagem do Facebook é associada à liberdade.


Um lírio na moeda de Israel lembra-nos do ensino de Jesus:

E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? (Mateus 6:28-29)

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De fato, não tenho muito mais a acrescentar sobre o assunto TEARES, mas se o leitor tiver, pode dispor dos comentários para contar algo que venha à sua mente... ou coração, já que teares caseiros são ligados de modo geral a nossos antepassados que já partiram deste mundo.

A propósito, "Trabalhos Manuais", uma meditação do meu livro que quem sabe nos fará lembrar de nossa mãe, nossa avó, alguma tia, que partiram e cujo trabalho manual ficou...

www.paulofranke-edificacaodiária.blogspot.com




L i n k s


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4 Comments:

  • Que legal, Franke! É uma arte que não deve desaparecer. Ela me faz lembrar do Rancho do Senhor na Rua Jua...saudades.

    Neinha
    Austrália

    By Blogger paulofranke, at sábado, junho 15, 2013 4:10:00 PM  

  • Karin Brigitte Fehsenfeld

    Eu não sei exatamente onde, mas ao ler seu post no blog, surge uma certa nostalgia, que não sei explicar exatamente de onde vem. Eu diria que é da própria Finlândia, pais do qual sempre amei ler. e que adoraria estar por uma boa e grande temporada. Mas obviamente que esse sentimento vem de algum outro contexto antigo do qual não tenho consciência. É muito provável que venha do tempo em que convivi com minha avó, de quem tenho muita saudades, especialmente da participação dela na minha infância. Mas ao ler teu post, me vejo entendendo os finlandeses ao serem tão caprichosos nestes trabalhos: uma forma de esquentar até mesmo a mente, do frio tão intenso que os deixava isolados de tudo e de todos. Hoje em dia, está tudo bem mais fácil por lá: tudo tem aquecimento e o padrão de vida é muito bom. Mas até há mais ou menos 20-25 anos atrás, as coisas não eram assim e tudo era muito difícil em virtude do frio. Mesmo assim, os finlandeses em sua maioria sempre souberam superar o frio e as consequências disso (isolamento, especialmente), tudo com muita dignidade, dentro da simplicidade de vida que tinham: artesanato, boa música, doces e bolos deliciosos.

    By Blogger paulofranke, at sábado, junho 15, 2013 9:03:00 PM  

  • Bem, os teares são uma paixão minha, apesar de nunca ter tido um e nunca tb ter feito alguma peça, mas gosto muito de tapetes do tipo que tens no hall, tenho alguns que espalho pela casa, e gosto das cores alegres deles. E outra coisa boa é que posso lava-los na maquina, jah que tenho as cachorrinhas que conhecestes e, às vzs, deixam escapar um xixizinho neles. Mas, certamente, um dia ainda terei um. Adorei o post. Beijo

    By Anonymous Clarisse Franke Avila, at sábado, junho 15, 2013 11:52:00 PM  

  • Paulo,

    Parabéns pela viagem pela história da tecelagem "doméstica"!
    Observei que na foto dos teares do museu da imigração o tipo de torneado da madeira é semelhante ao do bastidor da vó Adolfphina. É um caminho para termos uma idéia da idade do bastidor da nossa família.

    Abraço,
    Luiza

    By Blogger paulofranke, at segunda-feira, junho 17, 2013 8:03:00 PM  

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