Paulo Franke

27 julho, 2014

Tia EMMA BERG MEDEIROS, a 1a mulher a trabalhar no BB no Brasil!


  O edifício que sediou o Banco do Brasil em Pelotas-RS durante 58 anos ainda está lá no seu estilo que lembra muito prédios europeus.  De fato, muitos materais da construção, pesquisei, foram importados da Europa, assim como os da decoração interna, filetes dourados, frisos de mármore e outros, desenvolvida pelo artista e arquiteto Fernando Corona. Sua construção aconteceu de 1926 a 1928.
 Este antigo postal, publicado no Facebook, remeteu-me aos tempos quando lá ia com frequência como parte de meu trabalho de office-boy do Curtume Julio Hadler S/A (ver postagens recentes acerca da firma em duas partes). Enquanto esperava ser atendido, admirava o seu interior de beleza ímpar. Em 1972 o Banco do Brasil transferiu-se para uma nova sede, um moderno edifício também no centro da cidade.  O velho e belo prédio, no entanto, aguarda restauração, urgente!


Emma Berg Medeiros foi uma tia querida, casada com Plínio Salles Medeiros, irmão de minha mãe. Ir com minha mãe visitar sua cunhada na sua grande casa térrea e de esquina, na Rua Barão de Santa Tecla - até o nome da rua tem classe! - é uma das lembranças da infância (e sempre havia muitas balas para comer, uma vez que meu tio era o proprietário da Fábrica de Balas Sem Rival). Da referida casa, foram morar no segundo edifício construído em Pelotas, na rua Anchieta esquina Sete de Setembro. Visitá-los era então uma aventura sem tamanho, pois viviam praticamente no último andar do "arranha-céu"! Hoje o edifício magrinho perde-se no meio de tantos que a cidade possui.
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O casal não teve filhos, mas adotou em uma linda atitude dois sobrinhos, filhos de um irmão e da cunhada dela que faleceu.


O que fez a fina e elegante tia Emma uma mulher destacada, no entanto, foi o fato de ter sido a primeira funcionária do sexo feminino a trabalhar no Banco do Brasil no Brasil.
Ingressou como escriturária, por concurso público, em 1924, em Pelotas-RS. Foi gerente de carteira de cobrança e de ordens de pagamento, função na qual se aposentou, em 1954, na mesma agência onde começou a trabalhar. Ao completar 100 anos em 2004 -  no mesmo ano da fundação da PREVI - foi homenageada na revista do Banco do Brasil e recebeu de representantes da entidade bancária uma medalha comemorativa e um casaco de lã. "Mais do que fazer história, ela mudou a história", foi citado a seu respeito.



A foto mostra Emma Berg Medeiros  com os colegas da agência de Pelotas no dia de sua aposentadoria. Tio Plínio está à sua direita na foto (foto Boletim PREVI). 



Tia Emma acompanhada de suas sobrinhas Regina Berg Fuhro à esquerda, e Zuleika, que muito cuidaram dela (foto Boletim PREVI). 

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Da pesquisa que fiz pelo Google, destaco a do Boletim PREVI, a qual transcrevo em parte, com agradecimentos.

Mulheres pegam o bonde da história

Uma das mudanças mais notáveis foi exatamente em relação à situação da mulher no Banco do Brasil, patrocinadora da PREVI. Em 1904 não existia no Banco nenhuma funcionária, situação que só se alterou a partir da década de 20, com o ingresso de mulheres como a gaúcha Emma Berg Medeiros, admitida em 1924, com 20 anos de idade. Nascida no mesmo ano da fundação da PREVI e, portanto, festejando também o seu centenário, dona Emma trabalhou durante 30 anos na agência Pelotas, onde tomou posse. De escriturária passou a gerente da carteira de cobrança e encerrou carreira como chefe do setor de ordens de pagamento. 

Dona de memória invejável, Emma gosta de cultivar lembranças do trabalho, especialmente dos tempos em que era a única mulher entre mais de vinte funcionários do sexo masculino. “Eles me tratavam muito bem e eram todos muito corretos”, enfatiza com bom humor. Voltando ainda mais no tempo, conta que começou a trabalhar com 15 anos, no escritório de um estabelecimento comercial de Pelotas. Foi nessa época que soube da prova para o Banco do Brasil. “Para passar na prova era preciso saber português, matemática e datilografia”, diz, com a perseverança de quem aprendeu a ler e escrever numa sala de aula improvisada pela irmã mais velha, em função do reduzido número de escolas existentes na época.

A sobrinha mais próxima, Regina Berg Fuhro, conta que dona Emma costumava visitar sua antiga agência quase todos os dias, já aposentada. “Titia gostava tanto do Banco, que todas as sobrinhas desejavam trabalhar lá. Infelizmente o concurso para mulheres ficou suspenso por muitos anos”, explica a professora. Para o pessoal que está chegando ao Banco do Brasil, a nossa homenageada de 100 anos aconselha “Seja sempre atencioso, com os colegas de trabalho e com os clientes”. 

Boletim PREVI

NOTA: 
Já vivíamos na Finlândia quando recebi a notícia do falecimento da querida tia Emma, a qual visitara em Pelotas em meados dos anos 90 pela última vez, quando lá vivemos durante 9 meses. Tio Plínio havia falecido quando moraram durante bastante tempo no Rio de Janeiro. Em 1969, quando trabalhei no estado do Rio, os visitava de vez em quando, principalmente quando eles hospedavam tias-avós do Rio Grande do Sul no seu apartamento no Flamengo.


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Tendo obtido esta semana as fotos aqui publicadas, através de uma prima que mora na cidade de Rio Grande-RS, inclusive a do casamento dos tios Plínio e Emma Berg Medeiros, publicada acima, resolvo incluir outras, das irmãs de Plínio, também recebidas. Enquando as examinava, algo me chamou a atenção... dos quatro irmãos de minha mãe, três  casaram-se com descendentes de alemães, inclusive ela!


Sempre achei que minha mãe, uma morena de grandes olhos verdes, muito linda na sua juventude, não saiu muito bem na foto de seu casamento com meu pai, Darcy Franke, em 1936. Talvez com os preparativos para o casamento tenha emagrecido bastante, e o vestido de noiva, típico dos anos 30, também não parece tê-la ajudado muito, com o que meu elegante pai ao seu lado talvez não concordasse.


Tia Lacy casou-se com Adolpho Wohlfeil e na foto típica de casamentos não poderia deixar de constar uma almofada e corbeilles.



Como não possuo foto do tio João Medeiros, que se casou com uma 
Müllertomei a foto do casamento de seu filho, o primo Delvair Müller Medeiros, como que representando o de seus pais.


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Uma das próximas postagens...

Há muito eu desejava, assim como fiz uma postagem acerca da família Ebling-Franke, de meu saudoso pai, publicar neste blog também uma da família Da Costa-Salles-Medeiros, de minha mãe.

Pela falta de fotos devido à perda de uma preciosa caixa quando minha mãe se mudou de um apartamento para outro, eu não possuía material fotográfico suficiente para a postagem.

Com a ajuda da bondosa prima e de seu filho, de Rio Grande, que me forneceu as fotos desta, e ele que as fotografou, será possível publicar, muito em breve, a referida postagem que sempre considerei uma lacuna neste meu blog que trata, também, de assuntos familiares, ocasionalmente, como foi esta da saudosa tia Emma Berg Medeiros.


26 julho, 2014

VOCÊ ESTÁ PREPARADO PARA LER ISTO?... É FORTE!


NÃO É VISITANDO ISRAEL, COMO JÁ FIZ QUATRO VEZES (Veja Índice de todos os meus tópicos), QUE VAMOS ENTENDER O AMOR E APEGO DOS JUDEUS À SUA TERRA... É VISITANDO CAMPOS DE CONCENTRACÃO, OS QUAIS JÁ VISITEI CINCO (Idem, veja Índice) ...E EM BREVE MAIS DOIS... 

É  F O R T E  o que vai ler abaixo... o que aconteceu com este filho judeu (não gosto e não uso, mas não é à toa a origem da palavra "judiaria"):


É o depoimento de uma sobrevivente que viveu no Brasil, prestado à revista Manchete na década de 60 (foto):

"Nós, os mais fortes, éramos obrigados a cavar extensas covas. À beira dessas, colocam-se, em fileiras, os doentes, os velhos, as criancas e as mulheres incapacitadas para o trabalho. Rajadas de metralhadoras iam fazendo os coitados tombarem, às dezenas, dentro da sepultura. Mortos, quase todos. Alguns, porém, agonizantes. Assim mesmo, escutando os gemidos e os rogos, tínhamos de cobri-los de terra. Há um episódio de que não consigo esquecer. O rapaz que trabalhava ao meu lado, quando ia atirar a primeira pá, ouviu sair do montão de corpos o apelo desesperado na voz de sua mãe: 'Não jogue, meu filho, pois eu ainda estou viva!' Ele se deteve, hesitante. Imediatamente o soldado nazista lhe encostou às costas o cano da metralhadora: 'Jogue, ou morre também'. Do fundo da cova subiu, num soluco, outro apelo da mulher. 'Jogue, então, meu filho'. Ele jogou."

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L i n k

Como encontrar fácil temas sobre o Holocausto no meu blog:

http://paulofranke.blogspot.fi/2011/10/como-localizar-facil-temas-do.html

24 julho, 2014

Anúncio de livro sobre o conflito no Oriente Médio

Ouvido há alguns instantes na BBC World, na entrevista com o filho de um membro do Hamas: O grupo Hamas só quer a destruicão de Israel. O grupo terrorista não se importa com a morte de palestinos e nem mesmo com a morte deles mesmos, pois na ideologia deles morrer é honra e são considerados mártires. 

Bom lembrar disso! falo eu.

A propósito, recomendo o livro abaixo a quem quer entender o constante conflito na região. Mais detalhes, inclusive a como obtê-lo, acesse: 


occidentalis@netcabo.pt

Título em inglês: Demolishing the Myth of the Propaganda War Against Israel.

www.studentsforacademicfreedom.org


21 julho, 2014

Aconteceu na ILHA GREGA de Zakynthos... tocante!



llhas Gregas... sempre são associadas a lugares idílicos ou mesmo paradisíacos. As fotos mostram a Ilha de Zakynthos, que pode ser localizada no mapa da Grécia. Belíssima, como comprovam as fotos, li recentemente o tocante texto que passo a narrar, lido no site do Aish... a extraordinária história dos judeus da comunidade de Zakynthos ou como esta ilha escondeu seus judeus dos nazistas na Segunda Guerra Mundial, texto escrito por Tassoula Eptaili.

No fim da primavera de 1944, navios nazistas da morte estavam fazendo sua ronda pelos portos das Ilhas Ionian. Eles haviam capturado 2.000 judeus de Corfu e outros 400 de Cephalonia. Era a vez de Zakynthos...

A missão dos esquadrões da morte da SS era reunir todos os membros da comunidade judaica da região e levá-los ao porto de Patras, onde seriam transferidos em trens para o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau.

Ancorados em Zakynthos, o comandante nazista chamou o Bispo Metropolitano Chrysostomos e o Prefeito Lucas Carrer ao seu escritório e avisou-os que eles teriam 24 horas para submeter-lhe uma lista com os nomes de todos os judeus que viviam na ilha, juntamente com detalhes de suas propriedades.

Um envelopes lhes foi dado para ali escreverem o que lhes fora pedido. Vencido o prazo, o comandante abriu o envelope e o papel que estava dentro continha somente dois nomes: o do bispo e o do prefeito.

"Se você maltratar este povo", disse Chrysostomos com respeito aos judeus residentes na ilha, " eu irei com eles e compartilharei de sua fatalidade".

O comandante nazista ficou atônito. Ele enviou uma urgente mensagem a Berlim pedindo novas ordens. No meio tempo, o bispo e o prefeito informaram o líder da comunidade judaica, Moses Ganis, a respeito dos planos dos alemães, agilizando uma operação massica para esconder os judeus em vilarejos, fazendas e casas de cristãos. 

Nos meses que se seguiram e até a partida das tropas nazistas, nem um deles  confessou saber o paradeiro dos judeus e, como consequência, nem um só dos 275 judeus que viviam em Zakynthos foi deportado para campos de concentração.

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Chaim Constantinos tinha 11 anos naquele tempo. Ele vivia na ilha com seus pais e quatro irmãos. Seu pai era um comerciante textil e seu irmão mais velho era um metalúrgico. Ele é um dos poucos judeus ainda vivos da ilha que se lembram daqueles dias e que teve a oportunidade de assistir a história nas telas em pelo menos uma produção americana. A primeira é "No Man is an Island", um documentário dirigido por Yannis Sakaridis, e o segundo, um filme por Theo Papadoulakis, ainda sendo produzido. 

Entrevista com Chaim pode ser encontrada no fim desta postagem, porém em inglês... o que pode ser um bom exercício para os prezados leitores avan
çarem no conhecimento desta língua que tantas portas abre, também culturalmente, como foi quando li esta tocante história humanitária.


Em anos recentes, visitei a ilha grega de Cós/Kos, onde o apóstolo Paulo aportou e é na Bíblia mencionada. Aqui, estou diante da sinagoga local, hoje um centro cultural simplesmente.


Como em todas as ilhas gregas, conferi as belezas de Cós...
Lamentavelmente, o sol se pôs para a comunidade judaica de Cós, que não teve a mesma sorte da de Zakynthos e foi dizimada pelos nazistas.

Entrevista:

We met 81-year-old Constantinidis in Athens. He has lived in Israel for the past few decades but his mother tongue is Greek. Smiling and happy to be back in Greece, he spoke to us about the old days.

Did you know the Nazi boats were coming to get you?

Yes, but we didn’t want to believe it. We couldn’t believe that people could inflict such suffering on other people. We had never harmed anyone. Why would they hurt us? When they took the last Jews from Corfu we realized that our time was coming. But even then we were so close and attached to the Christians that we were waiting from them to tell us what to do, to protect us.
Who alerted your family?
Ganis came to our house late one night. “Grab a bundle each and leave,” he said. And we ran as fast as we could.
Where did you go?
He had arranged for us to hide out with a family called Sakis, I think – memory does not always serve – in Halikero, an area on the outskirts of the town. They gave us a room. There were seven of us, as well as a cousin of my father’s along with his wife and child. The 10 of us spent five months cooped up in there. We could see the Germans passing the house through the shutter slats. I will never forget those people who risked their lives to save us.
Have you seen them since?
In 1971. I went to visit unannounced. I knocked on the door. Sofia Saki opened; her husband Spyros had died. When she realized who I was she started sobbing. She wouldn’t let me out of her arms.
Let’s go back to the end of the war. When the Nazis left, did you return to your house?
Yes, and it was just as we’d left it. But we did not stay on the island much longer.
Why did you leave?
In 1946, when the state of Israel was being established, people came to us from over there, for propaganda. “Now that you’ve seen what happens, will you stay?” “How do you know it won’t happen again? Next time you may not be so lucky.” They said things like that and my father believed them.
We got together as a family and discussed it for hours. We decided that my brothers and I would go. My parents couldn’t follow at the time because my mother was heavily pregnant. On the morning that we waved goodbye to Zakynthos, my younger brother was born.
What was your new life like?
Tough, from the start, before we even set foot in Israel. There were 400 of us from all over Greece who arrived at Sounio [near Athens] to see a rustbucket waiting for us. “Is that what we’re sailing on?” we asked. “Of course not. Your boat, a big one, is waiting for you out in the open sea,” they said. It was a bluff. The trip, two to three weeks, continued in that shell. We could reach down and touch the water. You have no idea what we went through.
Was it easy to get used to life in Israel?
For me, yes. I was taken to a kibbutz. I worked all day. I didn’t get any money, just a plate of food and a bed to sleep on. I didn’t mind, but there were others who really suffered. One friend, Rovertos, killed himself. That was how sorry he was about leaving Greece. A few years later my parents joined us in Tel Aviv and things got better once the family was together again.
Where did you meet your wife?
In the army. Miriam worked in the library because she was educated and I was a driver. It took a lot of hard work to win her over.
Did she play hard to get?
She was hard to get! But I wooed her with Greek songs. I sang Zakynthian ballads to her.

What sort of work did you do?
For years I made iron bed frames. Then I worked as a chauffeur. I left for work when it was dark and came home in the dark just to make ends meet. In Zakynthos we weren’t rich but we had everything we needed.
What did you tell your daughters about the island when they were small?
That it is the most beautiful place in the world.
What do people in Israel think of Greece?
The best. They love it. You can hear Greek songs playing in homes and cafes, the perfect music for entertainment. And you know what they call Zakynthos? The island of the just. In elementary school history classes children are taught how the Christians there saved 275 Jewish souls.
What are your most vivid memories of your life on Zakynthos?
I remember the laughter of a Christian girl who lived in our neighborhood and was my first love. I think her name was Maria. I’m an old man now and I don’t think my wife will be jealous to hear it. I still remember the taste of my mother’s garlic dip and the smell of the tall grass in the empty plot beside our house. In spring the grass grew so tall I could hide in it. I wanted to look up at the sky without being seen.
Are you pleased that the world will hear your story?
Very. We need to tell the kids today about what happened, about the Nazis and the Holocaust, so that such horrors never happen again.
* This article first appeared in the July 6 issue of “K,” Kathimerini’s Sunday supplement. (AISH).

Published: July 12, 2014

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L I N K

Sobre as postagens da minha visita à ilha de Cós/Kos, coloque o nome da ilha no "Como localizar o tópico desejado neste blog" e o Índice indicará a série respectiva. Outra ilha grega que visitei... Patmos, onde o apóstolo João recebeu a visão apocalíptica.

18 julho, 2014

2. "Curtindo" lembranças do CURTUME JULIO HADLER S/A.

Na continuação da postagem sobre o Curtume Julio Hadler, penso em uma publicação light, se bem que pesa a saudade daqueles que fizeram parte daquela firma e há muito tempo não estão mais conosco, principalmente os parentes Frankes (conto 6 que lá trabalharam, incluindo-me neste número). Meu querido e saudoso pai faleceu aos 63 anos, em 1977.
Como mencionei no post anterior, vou acionar a minha memória para identificar alguns funcionários que lá trabalharam. Embora as fotos do cinquentenário sejam do ano de 1945, e eu comecei a trabalhar na firma em 1959, posso reconhecer muitos que faziam parte do quadro de funcionários no final dos anos 50 e início dos anos 60.



Sentados, na primeira fila, os que reconheço: Ceci Almeida, Maria Hendges, Ernesto Kock, Darcy Franke (meu pai, diretor-adjunto), Hugo Reguly (diretor), Germano Franke (meu avô), Pedro Centeno, Nario Barboza, Luiz Balbinotti, Carlos Franke (tio-avô). Na segunda fila: Oswaldo Fleischmann, Celso Lopes, Luiz, Rudolf Gehrs. Na terceira fila: Felipe, Gregório Teixeira. Na quarta fila reconheço somente o vigia noturno Belarmino e provavelmente o Dorvalino Quincoses.


O grupo de convidados para a comemoração, diante da placa que foi descerrada. Omitindo os já citados, com exceção de meu avô, bem na frente; um pouco à direita, minha avó, junto com minha mãe e irmã na época com três anos; tio-avô Arthur Ávila - meu pai e seu irmão mais novo aparecem no meio e bem atrás; meu tio-avô Carlos à esquerda, perto do Sr. Bamann. Com menos de dois anos, certamente eu fiquei em casa sendo cuidado por alguma tia.

Outros funcionários cujos nomes me vêm à mente: Rosa Balbinotti, Arnaldo Hendges, Pedro Brito e irmãos Hartwig. 


 Quase se esfacelando, guardo este calendário do Curtume, embora não consiga precisar a data. Firma de "origem alemã", a paisagem foi escolhida de acordo. Hoje, tais paisagens me são bem familiares no inverno finlandês.


Fazer piqueniques era algo corriqueiro na família. Aqui, meus avós e meus pais e outros familiares no lugar denominado Monte Bonito, em foto de 1937, quando meus pais tinham somente um ano de casados. Minha mãe sempre nos contava que em um desses piqueniques na área rural da cidade o único carro que os transportava quebrou. Meu avô e meu pai voltaram a pé para a cidade naquele domingo a fim de não faltarem ao trabalho no curtume na segunda-feira cedo. Ainda que as solas de seus sapatos tivessem ficado destruídas, o senso de dever era prioridade.


Década de 30, meus pais acima nos primeiros anos de seu casamento, com os demais filhos de meus avós Germano e Alayde Barcellos Franke, na festa de suas bodas de prata. Meu avô, que nunca dispensou a compra de um bom carro e de viver em uma boa casa, exercia no curtume a função de capataz, um tipo de encarregado da equipe de curtição.

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Ainda que a palavra tenha virado gíria, não cabe o "curtindo" do título desta postagem neste momento... Meu avô, Germano Luiz Franke, faleceu de repente no dia 8 de fevereiro de 1950. Um tio enviou-me o convite para seu enterro. Com apenas 7 anos, lembro-me de que meu pai começava suas férias anuais e levou nossa família para acampar na praia do Laranjal, que banha Pelotas. Ainda armando as barracas, chegou um portador da cidade dando-nos a notícia, o que fez com que desarmasse as barracas, juntássemos tudo e voltássemos para a cidade.



O Curtume Julio Hadler S/A. participou do convite no jornal local (última parte). Algo que considero triste é ler o nome de sua mãe, nossa bisavó Adolphina Franke, no convite de enterro de seu filho...

O mesmo tio que me enviou este recorte contou-me, para fins desta postagem, a causa da morte de meu avô:

"O que mais vem na lembrança é a ocasião quando, junto com papai jantávamos em um dia de temporal e, ao olhar pela janela da cozinha, nos surpreendemos com a ausência da imagem da chaminé do curtume e para lá seguimos tristemente para constatar a alta chaminé da fábrica tombada sobre o prédio da curtição. Em decorrência deste golpe, papai sofreu um AVC que lhe foi fatal."

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Gostávamos muito quando nosso pai nos convidava para ir com ele na "fábrica", o que acontecia geralmente aos domingos. Tudo parecia tão grande e aqueles imensos fulões quase assustadores. Vêm à lembrança os diversos setores que "explorávamos"... a expedição, a passagem pela sombria caldeira fumegante do Luiz Balbinotti, o almoxarifado, a vista da grande chaminé, o laboratório do Sr. Walter Nast etc.

Historiador nato, meu pai era uma "enciclopédia ambulante". Tenho a quem "puxar" no sentido de gostar de inteirar-me com assuntos da Segunda Guerra Mundial (talvez porque tenha nascido em 1943...).
Quando ingressei como funcionário do escritório do curtume, mais tarde, em 1959, com 16 anos, a "fábrica" era bem conhecida e já não entusiasmava tanto, como parte do dia-a-dia de labuta.

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Herdei de meu pai sua coleção de selos e alguns envelopes interessantes, como o abaixo, remetido para um amigo seu, funcionário do curtume, desde a Alemanha, presenteado a ele e que hoje me pertence.



A grande maioria de selos de sua coleção foram obtidos enquanto  trabalhava por anos a fio no Curtume Julio Hadler.


Este envelope da Alemanha penso ter sido enviado à firma pelo filho do diretor, o jovem Julio Carlos Reguly, quando foi estudar e se formou engenheiro químico na Alemanha. Mais tarde, dono de uma mente brilhante, voltou para o Brasil e trabalhou no curtume onde aplicou seus conhecimentos de química, tornando-se o Diretor Técnico da firma fundada por seu avô materno. 

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Das lembrancas de meu irmão, que foi quem me incentivou a escrever sobre o curtume no meu blog, há algo bem interessante que nosso pai compartilhou com ele: 
"... a visita de um oficial da marinha alemã e de seus ajudantes de ordens, talvez antes da guerra, em manobras pelos mares do sul todos uniformizados e com avental branco de viagem por cima da farda. Era a visita a uma empresa de origem alemã da região, no caso o curtume, em que ficaram uma tarde inteira mostrando a fábrica e conversando."   

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Meu pai atuou também como um diretor que viajava por muitas capitais do Brasil certamente divulgando os produtos do curtume e aceitando pedidos.


Recordo-me na infância de caminhonetes da VARIG o pegarem na porta de nossa casa para o levarem ao aeroporto local. E eu, menino, que já sonhava em viajar, o acompanhava em pensamento, imaginando se um dia eu viajaria de avião como meu felizardo pai! (...) Na foto, o interior de um Douglas DC8. 


Dessas capitais, ele enviava cartões postais para os filhos, cartões que ainda guardo com muito carinho.


Entre cartões postais dele que ficaram comigo encontram-se alguns da Alemanha, por exemplo o da esquerda, com a Leontopodium Alpinum, ou a famosa flor Edelweiss.

Certa vez contou-me que viajaria em um Super Constelation da VARIG... Pedi a ele que, por favor, filmasse o vôo, pois como cinegrafista amador filmava principalmente suas horas vagas do trabalho em passeio com um tio seu que morava no Rio de Janeiro.

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Em 1959 foi a vez de outro Franke compor o quadro de funcionários do curtume: eu, na foto com colegas do escritório, o segundo da esquerda para a direita.



Tenho a impressão de que estas duas únicas fotos que tenho de quando lá trabalhei foram do meu último dia de trabalho, antes de viajar para São Paulo para cursar o Colégio de Cadetes do Exército de Salvação. Trabalhei no escritório do curtume de meados de 1959 a início de 1964, tendo interrompido este tempo pelo serviço militar que prestei durante 9 meses em 1962.

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Minha irmã também lá trabalhou e penso ter sido até então a única mulher a trabalhar no escritório da firma. Meu irmão, que trabalhou depois de mim, tem as suas próprias recordações:


"Tenho lembranças do meu tempo de trabalho por lá, já na sociedade paulista com o diretor seu Ângelo; viajávamos eu e o cunhado Adroaldo levando couros para Novo Hamburgo, polo do sapato na época, numa Rural Willys carregada de peles, e na volta ele me deixava dirigir um pouquinho, acho que nem carteira eu tinha...


Quando trabalhei no escritório do curtume, levava documentos para a exportação para a Europa, na Alfandega de Pelotas, lá no Porto, e sei que iam para o porto de Antuérpia na Bélgica. Também que levava para Novo Hamburgo, onde eles revendiam para a indústria calçadista, a maior do Pais."

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O que meu irmão me mandou para esta postagem, documentado em um livro, é um tanto tristonho...



Anteriormente tida como uma atividade promissora, devido a facilidades, como a abundância de matérias-primas e a disponibilidade de mercados consumidores, o processamento industrial do couro, vem enfrentando graves problemas. Na cidade de Pelotas, tal realidade é nítida, pois apenas dois curtumes hoje em funcionamento, ao passo que o seu número ultrapassava em vinte nos anos 1950. A economia do couro em Pelotas nunca apresentou uma atividade consolidada e próspera, como é nos vales dos Rios Caí e dos Sinos. Com isto, ela tende a ser extinta em Pelotas, visto que sua produção vem se retraindo, com seus estabelecimentos remanescentes estando em dificuldades e encerrando suas atividades. 
(A economia do couro na produção do espaço geográfico em 
Pelotas-RS)


Na minha última vez em que visitei minha terra natal, um dia denominei de "pelos caminhos da saudade" (link abaixo) e andei por lugares familiares do passado, inclusive diante do Curtume Julio Hadler, firma que não mais existe e cujo prédio foi transformado em uma grande carcaça...
Os únicos lugares que palidamente lembravam o prédio do passado foram estes das fotos, por sinal muito deprimentes.


O relógio-cuco abaixo foi presente do diretor do curtume - Sr. Julio Reguly e de sua fina esposa Julieta Hadler Reguly - à minha agora saudosa irmã Norma quando se casou em janeiro de 1959 com Adroaldo Nebel, de grata lembrança também.  Ainda hoje, no entanto, o relógio funciona e embeleza, mas também serve como fecho para esta postagem que tocou as fibras do coração...



"Que proveito tem o trabalhador naquilo em que se afadiga? Vi o trabalho que Deus impôs aos filhos dos homens... Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem... É dom de Deus que possa o homem comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho... " (Eclesiastes, capítulo 3).

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Obrigado, Curtume Julio Hadler S/A, pelo tempo de sua existência e por ter sido o provedor para tantas famílias do passado, incluindo a nossa!



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L i n k

http://www.paulofranke.blogspot.fi/2012/04/pelotas-rs-pelos-caminhos-da-saudade.html


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